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chapter 7

Samuel

Sinto o meu corpo sendo tocado por alguém, tento abrir os olhos, mas não consigo, sinto-me como estivesse sendo domado por um sono profundo. Via tudo turvo a minha volta, mal reconhecia os rostos. Ela sussurra no meu ouvido, conhecia essa voz. Respiro fundo e abro os olhos, encarando-a. Ela toma a minha boca, enquanto a outra sua mão desce ate o meu abdómen, ate chegar o nível da minha virilha. Seguro a sua mão e encaro, fazendo ela parar.

– Sei que você quer... – Ela toma novamente a minha boca e sua mão invade a minha calça, sou acariciado sem permissão, mas também não consigo evitar pois estou tonto, não consigo reagir, como se uma droga estivesse em mim. Deixo me levar no prazer e de seguida caio num sono profundo. Sinto o tempo passando, meu corpo continua adormecido mas a minha mente fala para eu acordar.

– David.

Ouço o meu nome, mas não consigo despertar, como se não tivesse o controle do meu próprio corpo.

– David acorda!

Desperto assustado e agoniado, respiro fundo tentando me acalmar. Não entendia o que acabou de acontecer, se era um sonho ou se oi real. Seja la qual for, porque Nancy continuava aparecendo na minha cabeça.

– tranquilo David, toma os seus comprimidos. Aceito os comprimidos e finjo que tomo, a enfermeira faz o mesmo de sempre verifica se realmente os tomei obedeço mas logo que ela sai eu tiro comprimidos da boca. Mal tomo o pequeno almoço, vou a sala de atividades, na esperança que o Lucas esteja la. Entro na sala e vejo o Lucas sentado no chão, brincando. Pego no primeiro jogo que aparece a frente e vou até ele. Sento-me ao seu lado e lhe encaro.

– Pois não?– Disse-me.

– Onde você … Quer dizer o seu irmão, foi ontem a noite? O Gabriel.

– Por que quer saber?– Pergunta desconfiado.

– Preciso saber!

– Não sei, não sou a bunda dele para saber todos os seus passos! – Reclamou enquanto brincava com os dados.

– Ontem a noite, ele passou a linha vermelha!

Lucas para e fica pensativo, vejo que ele sabe de alguma coisa, mas tem receio de falar

– Lucas! – Sussurrei.

– Escuridão. Ele foi ao mundo da escuridão .

– Que mundo é esse? Do que esta falando?

– Não sei, eu nunca fui! Gabriel é que sabe, pois a namorada e uma amiga dele estão lá…

Ponho a mão na cabeça ficando irritado, era impressionante como as taras do Lucas eram diferentes, como se fossem várias pessoas num só corpo. Até o jeito mudava, o Gabriel de ontem tinha um jeito mais discreto, falava mais pausadamente , diferente do Lucas que falava rápido e gesticulava , a Brida nem falo, era uma mulher num corpo de homem.

– Além do mais eu não me dou muito bem com o Gabriel, ele sempre fez péssimas escolhas! É por causa dele que estou aqui! – Ele revirou os olhos. – Porque ele tinha que matar aquele vizinho?

Sussurrou baixinho irritado.

– O que o Gabriel fez?

– Meu irmão é um desequilibrado, agressivo por vezes… Machucou até mim…

Era difícil de conversar com alguém assim, para ele o irmão lhe machucou, para mim ele se machucou a si próprio. Olhei a volta procurando o paciente que dá outra vez havia gritado, falando de demônios e escuridão, mas ele não estava. Por que será que eu tinha impressão que os pacientes deste lugar iam sumindo, como se nunca estivessem estado aqui?

Via o César conversando com os pacientes, dando atenção como se fosse um psiquiatra, ele realmente acreditava que trabalha neste lugar e nós eram os seus pacientes. Ele pegou num papel e escreveu uma receita num papel branco, para um paciente que se queixava de enxaqueca e dor na garganta. Ouço ele falando os medicamentos que deve tomar, corretamente como um médico poderia receitar. Cesar podia ser louco, mas ele tinha conhecimento na área de medicina. Ele se aproxima de mim atencioso, me tratando como o seu paciente.

– David….

– Cesar.

– Dr César! – Ele se senta ao meu lado.– Está conseguindo jogar?

– Sim. – Menti. Nem estava prestando atenção no jogo, peguei no primeiro que apareceu.

– Está jogando o jogo da velha sozinho? – Perguntou estranhando. – Está jogando com o mr jones?

Droga, nem tinha reparado que era o jogo da velha, ele conseguia ser mais observador que os próprios funcionários.

– Bem…

– Vamos jogar juntos! – Ele respirou e se posicionou.

– Cesar, quanto tempo você está aqui?

– Nem lembro…. – Ele deu o primeiro passo no jogo.

– Você já ouviu falar do mundo da escuridão?

Ele parou uns segundos e me encarou.

– Já!

– Sabe onde fica?

– Não e nem quero saber…

– Por quê?

– Porque esse lugar é como a morte, você não sabe se vai ao inferno ou ao paraíso! Todos que foram nunca mais voltaram, para me falar como era…. Então das duas ou uma, estão no paraíso e não querem voltar ou estão presos no inferno….

Eu respirei fundo e dei o próximo passo do jogo.

– Alguém que me leve até lá?

– Gabriel é o único que consegue ir e voltar… Mas não nos falamos. Ele é agressivo por vezes…

– Então ele é uma pessoa que pode…

– Ele não é pessoa…. – Cesar riu-se. – Grabriel! O anjo traidor do Reino dos loucos que foi expulso e está na terra….

Estava ficando confuso. Não entendia o que ele queria dizer com isso.

– Gabriel foi capaz de incendiar a casa do seu vizinho por ter brincado de casinha, com uma menina de 7 anos. Ele é um anjo mau…. Ganhei! – Gritou o César feliz da vida, dando último passo do jogo da velha.

Eu revirei os olhos pouco me importava esse jogo da velha. Olho para o Lucas que ela está jogando com outro paciente e sei que não ia conseguir mais informação dele. Respiro tentando manter a calma e pensando como chegarei lá. Num mundo onde nem sequer sabia se era real, mas algo de estranho havia aqui, onde a minha esposa estava internada. De repente um paciente começa a bater no Lucas, sem motivo. O Lucas cai aflito, não conseguindo se defender, enquanto o outro que batia, mas eu me intrometo e o defendo, segurando o paciente e afastando-o. Os funcionários chegam e levam o paciente, enquanto eu me aproximo do Lucas, antes que alguém fale com ele. Seguro-lhe fortemente.

– Fale com o Gabriel, para me levar a esse lugar! Hoje! Você me deve essa! – Disse com as mãos presas na sua bata. Fui afastando porque um dos funcionários pegou no Lucas levando ao quarto dos primeiros socorros, para fazer curativo. Não tive outra escolha, eu tinha que arriscar tudo. Se Sayuri não estava aqui, talvez realmente existisse um outro lugar.

16h

De frente com a Nancy, não consigo disfarçar o constrangimento pelo que aconteceu hoje pela manha. Não sabia se era sonho ou real, mas podia jurar que senti o seu toque.

– Esta tudo bem, David?

Acenei positivamente a cabeça

Ela mostrou um sorriso ficando corada e sem jeito.

– Você esteve no meu quarto pela manha?

Suspirei e passei a mão na cabeça, então realmente aconteceu. Ela me beijou e acariciou o meu membro hoje de manhã.

– Sabe guardar um segredo?

– Quer falar sobre o beijo que me deu?

Ela levantou a sobrancelha, estranhando a pergunta e um pouco surpresa.

– Beijo! Que beijo?

Fiquei em silencio, sem saber o que dizer, ficando confuso. Será que foi um sonho, não era possível.

– Eu fui para o seu quarto, te dei um acalmante e...

– Qual segredo está falando então?

– Eu não devia ter te dado acalmante! Mas dei porque você sempre tem pesadelos e você tem transtornos, fiz pensando em te ajudar.

Engoli a seco, ficando sem jeito. Eu havia sonhado com ela, sonho erótico ainda por cima.

– Você achou que tivesse te beijado?

– Não, eu confundi! – Menti e ainda confuso.

Ela mostrou um sorriso achando engraçado. Lembrei do que o Cesar me, de muitos pacientes terem um fraco por ela. Ela era linda sim, mas não imaginei pudesse ter sonhos eróticos sobre ela.

23h

Deitado na cama esperava algum sinal do Gabriel, se ele não viesse iria voltar ao mesmo local a ver se o encontrava por lá. Espero mais alguns minutos, levanto-me da cama e começo a ficar ansioso e impaciente. Começo a contar até dez, enquanto dou voltas no mesmo lugar. Logo ouço o bater de porta, de imediato abro e vejo o Gabriel. Eu já sabia diferenciar as personalidades do Lucas.

– Xiuuu .. – Disse o Gabriel com o dedo na boca.

Eu acenei positivamente a cabeça. Sem meia palavra Gabriel me da costas e começa a caminhar e eu o sigo, vendo para onde ele me leva. Pelo caminho ouço vozes vindo de longe, as mesas vozes que há dias pediam por socorro.

– Você também ouve? – Perguntei.

– Sempre! – Diz o Gabriel caminhando, me levanta até porta que passa a linha vermelha, a mesma porta da noite passada. Vou andando e olho para os olhos, vejo a Nancy numa das salas.

– Não olhe! Nunca olhe….

– Por que?

– Se você olhar, você vai acabar desistindo de continuar… Não se distraia. – Disse-me olhando para frente.

Uma das portas abriu -se, Gabriel, puxou-me me lavando para outro o quarto. Ficamos encostados numa das paredes. Eu vejo uma câmara no canto do quarto e me assusto, mas presto atenção e vejo que está desligada.

– A câmara não funciona? – Perguntei confuso e desconfiado.

– As câmaras apenas funcionam nos lugares onde é para as pessoas verem!

Gabriel afastou -se da parede e caminhou até uma mesa e afastou. Amostrando-me uma saída pela grade do piso do chão. Ele tirou a grade e encarou-me.

– Você primeiro! – Disse-me.

Encarei-o desconfiado, pois não sabia onde isso iria me levar, mas fui, não tinha outra saída a não ser ir. Caminho até ele e entro pela grade de piso e me deparado com um túnel que tem escadas. Vou descendo as escadas e o Gabriel vem logo a seguir e coloca a grade no lugar. Descemos os dois , pelas escadas até chegar sentir os pés no chão. Saio do túnel e me deparo com algo que eu jamais poderia imaginar! Parecia um outro mundo.

– Bem vindo ao inferno David.

Vejo outras pacientes circulando no local, parecia um hospital subterrâneo, com corredores e quartos distribuídos, mas era algo sombrio, triste. Como se os que estavam aqui, haviam sido abandonados. Pois alguns tinham feridas abertas nos braços , estavam mal cuidados e com péssima aparência .

– Que lugar é este?

– O lugar onde ninguém deseja ir… o lugar onde que o paciente que vê o que não deve e não segue as regras, fica para sempre. O lugar onde os meus amigos estão, o lugar onde a flor do meu jardim está…

Eu fui caminhando e olhando a volta. Não acreditando no que via, não era possível que existia um lugar como este. Por que eu nunca soube deste lugar, da vez que visitei a Sayuri, ninguém me falou deste lugar. Gabriel começou a caminhar e o segui.

– Temos poucas horas para ficar aqui! Agora são quase meia noite, temos de voltar antes das quatro, pois as cinco horas as enfermeiras nos fazem visita.

– Entendi… – Disse espreitando um quarto, mas logo sou puxado.

– Nunca entre nesse quarto!

– Por quê?

– paciente perigosos e compulsivos, se você entrar, corre o risco de morto ou estuprado ou outras coisas… Por isso que eles estão presos entre eles, agem sem pensar… como irracionais!

– O lugar certo para esse tipo gente é na cadeia! – Afirmei, como policial não podia aceitar que homens assim fossem considerados doentes, não ao meu ver.

– Eles têm distúrbios mentais, agem por impulso… Seus desejos estão acima do raciocínio deles.

Eu pus a mão na minha Cabeça, não acreditando que este lugar existia, começo a respirar fundo. Gabriel me encara me analisando.

– Quem é você David?

Eu o encarei e fiquei calado. Gabriel tira a faca da calça e me encara. Vejo que ele agia como se tivesse lido os meus pensamentos.

– Gabriel…

– Você não é como os outros pacientes, eu já tinha reparado! Lucas e a Brida, podem ser bobos mas eu não sou! Quem é você?

Gabriel avança em mim, mas eu me devendo, ele tenta esfaquear-me mas eu seguro a sua mão, e torço o seu braço. Ele tenta se debater contra mim, mas sem sucesso pois eu era mais forte e treinado para isso.

– Me solta seu filho da P… – Ele se debate e eu o solto. Enxergo a fúria nos olhos por não ter a sua resposta, ele me encara e começa a gritar. Fazendo um barulho. Eu avanço nele e fecho a sua boca, morde minha mão, eu gemo de dor mas isso não faz com que eu o solte. Ele não podia gritar dessa forma, iria levantar suspeita e deixaria os pacientes mais agitados.

– Me chamo Samuel, sou policial….– Disse ainda com a mão na sua boca e vertendo sangue. Ele se acalma. – Vim a procura da minha mulher…

Samuel olha para mim e começa a rir, não acreditando. Ele cruza os braços e ri de novo e de novo.

– Nossa, você é louco mesmo! – Diz ele rindo-se. – Policial e veio buscar sua mulher, o que está querendo competir com o filme missão impossível?(Risos)

– Escuta.

– Não quero escutar mais nada, você mais louco que todos nós… – Ele continuou caminhando. Vem comigo.

Eu o segui, ele foi me mostrando os lugares deste novo mundo. O lugar até tinha uma lanchonete, banheiro, quartos mas sem controle nenhum. Como se todos fossem livres, porém abandonados e sem nenhum acompanhamento. Homens e mulheres estavam todos juntos. Caminhamos até um corredor que estava mais tranquilo e tinha outros quartos. Ele parou e olhou para o lado, se aproximando de uma porta e espreitando pela janela.

– Aqui está a flor do jardim.

Eu espreito pela janela e não acredito no que vejo, Sayuri, era minha Sayuri. Ela estava lá no quarto, sentada na cama, brincando com flores. Ele tirava as pétalas das flores e parecia estar a falar para elas. Estava triste, com olheiras, mais magra, com marcas no corpo.

– Sayuri! – Eu bati na porta, chamando-a. Tentei abrir a porta mas estava trancada.

– Hey, você vai assustá-la! – Disse o Gabriel me afastando.

– Por que ela está aqui?

– Porque ela é mais guerreira de todas! Tentou fugir várias vezes, foi uma das que quebrou as regras. Só a tiram daqui, quando o seu marido vem lhe ver…

O marido sou eu, eu!! E eu sempre achei que ela tinha o melhor neste lugar, afinal todo este tempo ela estava aqui.

– Você é o Samuel da Sayuri? – Perguntou-me.

Eu acenei positivamente a cabeça.

– Ela sempre fala de você.

Se ela sempre fala de mim, porque das vezes que a vim ver, ela parecia nem me reconhecer e estava agressiva. Aproximei-me da janela da porta e chamei mais uma vez. Ela olhou para janela, seus olhos estavam em mim, chamei-a mais uma vez mas ela sorriu e desviou o olhar, brincando com as flores novamente. Eu conhecia aquelas flores, Cravos, as flores que a dei no primeiro encontro, quando a pedi em casamento e quando comemoramos o nosso aniversário de casamento. Ela se lembrava de mim sim, algo de mim ainda estava nela.

– Eu preciso entrar lá dentro. – Disse.

– Se eu soubesse como entrar eu já teria entrando, não acha?

– Ela está sempre presa?

– Não, não sempre. – Ele desviou o olhar, demonstrando algo triste como se ele soubesse de alguma coisa. – As vezes a soltam.

Eu olho a volta e procuro algo bicudo ou travessão, olho para o chão e vejo arame perdido. Pego o arame e tento abrir a porta.

– Se abrir e não trancar, ele irão puni-la. A culpa será sua!

Eu paro e respiro fundo.

– apenas quero falar com ela e a tirá -la daqui.

– Tem tempo? Restam apenas uma hora…

Pego as calças e vejo que não tenho celular comigo.

– Aqui não tem telefone?

– Você acha? Cuidado com o telefone, tudo que você fala, eles ouvem! A última vez que a Sayuri mexeu no telefone para falar com você, ela levou choque elétrica por sete dias…. Não sei como ela não morreu.

Lembrei-me da noite que ela me ligou chorando e pedindo socorro, e ligação foi interrompida. Eu sabia, a minha intuição estava certa. Eu precisava do meu celular, pois se ligasse eles saberiam que liguei. Gabriel se aproxima da janela e a chama. A Sayuri o encara e sorri, quase pula da cama e se aproxima da porta. Mostra um sorriso gratificante e coloca as mãos na janela. Parecia estar mais próxima dele do que mim. Gabriel sorri e olha para mim e depois volta à olhar para Sayuri. Sayuri abana a cabeça e da dois passos para trás.

– Sayuri… – A chamei pondo as mãos no vidro. Ela fica um tempo me encarando e parece chocada com o que vê. Diz algo mas não consigo ouvir…..

Tento ler os lábios dela, mas nesse instante sinto o meu pescoço sendo apertado. Gabriel esmurra o enfermeiro, fazendo com ele me solte. Olho direito e vejo um enfermeiro com um corda na mão, encarando a mim a e o Gabriel. O homem tenta avançar em mim, mas eu lhe esmurrei e ele cai no chão, Gabriel pega numa cadeira próxima e bate nas costas do homem. Ainda vendo o homem inconsciente caído no chão, Gabriel não se contenta e tencionava bater a cabeça do homem, mas eu impeço segurando o seu braço. Ele me encara e aceno negativamente a cabeça. Ele deixa a cadeira no chão frustrado, mas aceita.

– Não se preocupe, mais logo ele acorda e nem vai se lembrar do que aconteceu, digamos que foi um acidente de trabalho. – Disse o Gabriel.

– Por que ele quis me matar?

– Todos os pacientes que estão aqui têm os dias contados… Não é nada pessoal.

Sente-me aflito, tinha de tirar a Sayuri deste lugar. Olho novamente para janela da porta, tento me comunicar com ela, mas ela apenas me encara ainda assustada

– Temos que ir Samuel!

– Mas…

– Agora, se nos acharem jamais sairemos daqui

Gabriel faz me um sinal, me mostrando um outro enfermeiro que estava de costas para nós. Tive que ir contra a minha vontade, não me conformava em vê-la assim, mas se fosse descoberto nunca sairíamos daqui.

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